10 de janeiro de 2012

Entrevista com o jornalista Frederico Jota


Entrevista com o jornalista Frederico Jota, comentarista do programa Minas Esporte da Band, e colaborador da revista Placar. 

Frederico Jota

[Futebol Campeão] Você teve apoio de sua família para a carreira de Jornalista?

Frederico Jota: 
Sim, sempre tive. Apesar de todas as dificuldades da carreira, fui apoiado a todo momento. É uma escolha pessoal que deve ser respeitada.

[Futebol Campeão] Alguém de sua família como filhos, vai seguir a carreira do pai?

Frederico Jota: Ainda não tenho filhos, mas até o momento sou o único entre irmãos e tios a seguir a carreira. Mas alguns primos já se encaminharam na profissão, por enquanto.

[Futebol Campeão]  Com quantos anos você teve o seu primeiro trabalho como jornalista?

Frederico Jota: Ainda como free-lancer, com 21 anos.

[Futebol Campeão]  Se não fosse JORNALISTA, o que seria?

Frederico JotaNunca pensei em nada diferente do que ser jornalista.

[Futebol Campeão]  Teve algum acontecimento na sua profissão, que quase te fez desistir?

Frederico Jota: Nunca pensei em desistir da minha profissão, mas a falta de apoio do sindicato da categoria em Minas Gerais, a crescente queda de qualidade de alguns veículos, a má condição de trabalho em várias redações e o sucateamento de tudo o que envolve a profissão, especialmente os salários, me incomodam muito.


[Futebol Campeão]  Qual o fato que mais te marcou como jornalista?


Frederico Jota: Muitos. A possibilidade de trabalhar em grandes eventos, como Jogos Pan-Americanos, sorteio das eliminatórias da Copa e em jogos da Seleção Brasileira, por exemplo, sempre foram fatos importantes. Tive a possibilidade também de ser co-autor do livro "Galo, Uma Paixão Centenária", uma realização importantíssima para qualquer jornalista. Além disso, poder ter contato com pessoas importantes dos meios cultural e esportivo, como Pelé, Paulinho da Viola, Fabio Capello, Zico, Reinaldo, Gal Costa, entre vários outros, fez enriquecer demais a experiência da profissão e me fez ter muito prazer em ser jornalista.

[Futebol Campeão]  Mesmo tendo um time de coração, é considerado um jornalista muito imparcial. Acredita que a imparcialidade no ramo dos esportes é importante?

Frederico Jota: Profissionalmente, é fundamental ter imparcialidade em qualquer área do jornalismo, mas isso jamais impede qualquer um de falar quais são suas preferências clubísticas. Querer medir a qualidade profissional de qualquer jornalista simplesmente porque ele declarou seu clube de coração é uma tolice. Cabe ao profissional saber separar exatamente onde está o torcedor e onde está o jornalista. Quando o profissional descobre onde está esse limite e trabalha bem com isso, será sempre respeitado.



[Futebol Campeão]  Passou por muitos momentos difíceis?


Frederico Jota: A profissão não é simples nem fácil. Tem muita pressão e cobrança. Ser visado em alguns momentos pode ser complicado, porque sempre tem algum leitor ou torcedor que te exige mais do que você pode dar. Já tive problemas ao trocar de alguns veículos, apostar em projetos que, na prática, não funcionaram. No jornalismo, isso, infelizmente, é comum, pois se trata de um mercado restrito. Às vezes, as ideias são maiores do que a capacidade de executar e muitos veículos, sejam eles jornais, rádios ou tvs, não conseguem dar conta de realizar. A instabilidade financeira da profissão também já me colocou em situações complicadas.



[Futebol Campeão]  Diferentemente do que era antigamente, o Futebol Estadual nos dias de hoje, tem se tornado pouco importante e, muitas vezes, os grandes times não levam o campeonato estadual a sério e até escalam seus times reservas. Qual a sua opinião sobre isso?


Frederico Jota: Tudo é uma questão de calendário. O futebol brasileiro não comporta mais estaduais que vão de janeiro a maio. Isso não existe. Os estaduais não agregam nada tecnicamente aos grandes. É um absurdo ter tantas datas para os estaduais e espremer rodadas no Brasileirão, entre julho e agosto, como se tem feito. Acho que os estaduais deveriam ser drasticamente reduzidos, com os grandes participando de, no máximo, um mês dessa competição. A Copa do Brasil deveria ser mais inclusiva, aceitar todos os clubes, como é na Copa da Inglaterra, por exemplo. Uma outra opção é fazer com que os estaduais, sem os grandes, sejam classificatórios para séries inferiores do Brasileirão, que sejam as E, F e G, desde que, claro, as competições ocupem todo o calendário. O estadual, hoje, é ruim para os grandes, que não se interessam pela competição, e para os pequenos, que fazem times para jogar três meses do ano, em sua maioria.


Encontro dos colecionadores de camisa de futebol de Minas Gerais
[Futebol Campeão]  Quais são as suas expectativas para o campeonato mineiro 2012?


Frederico Jota: Acho o campeonato fraco tecnicamente e pouco atrativo. Os times do interior ainda estão muito longe das equipes da capital, a estrutura dos estádios deixa a desejar e falta competitividade. O Tupi, que terminou o ano bem ajustado, pode ser considerado a quarta força, mas não a ponto de sonhar com título. Espero que as equipes que vão participar de torneios nacionais usem a competição da melhor forma como um laboratório. 


[Futebol Campeão]  O que você tem a dizer do atual momento de América, Atlético e Cruzeiro?

Frederico Jota: O Atlético consegue fazer algo que há muito tempo não faz, que é manter uma base. Isso pode ser importante. O clube errou demais ao contratar e demitir em excesso nos últimos anos. Agora manteve a comissão técnica, praticamente todos os titulares e começou a contratar de forma pontual. Entrosado, o time pode ter uma boa temporada, mas acho que ainda precisa de jogadores mais decisivos para sonhar com títulos de ponta.
O Cruzeiro vai ter dificulidades até conseguir definir uma equipe titular. Passa por um processo de reformulação, com muitas caras novas e reforços modestos, muitas apostas e poucos jogdores feitos. Tem carência nas laterais e vai ter um ataque novo, que ainda vai depender muito da forma como Wallyson voltar da contusão. O meio-campo, que sempre foi o motor do time nos últimos anos, será muito modificado. Se perder Montillo, a coisa pode piorar. É o momento de fazer um time e dar entrosamento a ele durante o Mineiro. Mas, por enquanto, acho o time limitado.
Já o América fez bem ao manter a comissão técnica, mas perdeu jogadores importantes, como Amaral e Gílson. A estrutura da equipe, porém, foi mantida. Não pode errar como errou em 2011, quando montou o time com o Brasileirão em andamento, trocou técnicos e custou a formar uma equipe propriamente dita. O ideal é montar o time no início do ano.

[Futebol Campeão]  No seu ponto de vista, existe algum atual jogador no Brasil, que possui potencial de se tornar um dos melhores jogadores do mundo?

Frederico Jota: Hoje, só o Neymar. Os demais são apostas que ainda precisam encorpar, como Ganso e Lucas. Ambos têm potencial para jogarem em bom nível na Europa, mas não para serem melhores do mundo.



[Futebol Campeão]   O Campeonato Brasileiro tem a temporada diferente dos campeonatos europeus, e assim a janela de transferências do Brasil também contradiz com a Européia. Devido a isso, dizem que a temporada brasileira deve mudar. Você é a favor desta mudança? Crê na mudança em breve? Qual a sua opinião?


Frederico Jota: O campeonato tem que ser atraente e ter motivos para que os jogadores, investidores e patrocinadores o tornem ainda mais forte, a ponto de um atleta querer ficar no país. Não acho que simplesmente adequar o calendário vai resolver o problema. Afinal de contas, existe uma janela de transferências em janeiro, o que daria no mesmo, o campeonato seria enfraquecido no meio. É importante criar um calendário decente, com a colaboração da Conmebol, que coloque a Libertadores e a Sul-Americana simultâneas, durante toda a temporada, que o Brasileirão seja no ano inteiro, que os estaduais ocupem menos espaço, entre outros fatores, como o espaço adequado para a pré-temporada e para excursões. Assim, o mercado vai ficar ainda mais poderoso e os jogadores poderão continuar no país. Um Brasileirão nos finais de semana com jogos de copas nacionais e continentais às quartas e quintas potencializaria demais o futebol nacional.



[Futebol Campeão]   Qual o segredo hoje, para um jovem que queira ser um "Frederico Jota"?


Frederico Jota: Jornalista tem que ser persistente, estudioso e esquecer que existe folga. Sempre me mantive muito ligado, buscando aprender mais e mais, lendo muito e correndo atrás das melhores fontes de informação, sempre ouvindo vários lados para conseguir informar o melhor. Claro que especializar em uma área é muito importante, mas jornalista tem que estar aberto para tudo o quanto é tipo de informação. É importante saber que sempre temos algo a aprender, a atualizar, a crescer. Sempre fiquei atento a todos os tipos de mídia, procuro me atualizar sempre. E, como disse antes, jornalismo é uma profissão instável, temos que estar preparados para tudo.



[Futebol Campeão]   Qual dica você daria para uma pessoa que deseja se tornar um jornalista esportivo?


Frederico Jota: É fundamental gostar e entender de esporte. Muitos confundem o que é ser torcedor com entender de esporte. Nem sempre é assim. É importante saber as regras, conhecer a história do esporte, dos clubes, dos atletas, etc. E acompanhar sempre, procurar ter uma leitura pessoal dos jogos e das competições, não se deixar influenciar. E acompanhar significa ler, ouvir e ver os assuntos de várias fontes de informação. A opinião e a posição de cada um começa a partir daí.

[Futebol Campeão]  Gostaríamos de agradece-lo pela oportunidade de nos conceder esta entrevista ao Blog do Futebol Campeão, e dizer que admiramos muito o seu trabalho, e lhe desejamos muito mais sucesso, pois você como grande jornalista que é merece. Abraços!

Frederico Jota: Eu é que agradeço o espaço e o respeito que vocês têm com o meu trabalho.


Twitter: @FredericoJota

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